sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ponta do Coral

Crimes e  Muros

(Texto escrito por Murilo Silva, Professor de filosofia; fundador da Associação dos Moradores da Agronômica, publicado em 24/05/2013, na coluna de cartas do jornal Notícias do Dia, p. 06, A carta foi escrita para comentar entrevista do representante da construtora que pretende construir mega empreendimento, contestado pela maioria da cidade, capital de SC. O argumento mais repetido pelos empresários é de que a área foi abandonada e reúne criminosos e desocupados.)

Fonte da imagem: http://www.deolhonacapital.com.br/


Sobre a Ponta do Coral, faltou dizer que em 10/11/1980 o terreno foi cercado, pelo Estado, de arames farpados e portões com cadeados. Um mês e seis dias depois foi vendido para uma empresa, apenas por decreto e sem lei autorizativa (ato administrativo nulo). Desde então “benfeitorias” foram realizadas, como a derrubada dos pavilhões (antigos depósitos de óleo da I Guerra Mundial), o corte das árvores e a substituição da antiga cerca por um “lindo” muro cinza. A desculpa para o atual fechamento da área não cola. É a mesma da época: veículos que estacionam para liberar ruidosos decibéis que invadem nossos ouvidos, e consumo de drogas. Então, tem-se que cercar a marginal a alguns metros dali, onde centenas de jovens com tímpanos de aço fazem o show noturno dos auto-falantes. Enquanto às drogas, teríamos que cercar a parte insular de Floripa, com revistas diárias de entrada e saída. O que não é dito, é a verdade: o muro de agora é apenas a tentativa do início da maquete do empreendimento privado. Lá, antes de ser propriedade privada, gerações se encontraram em jogos e piqueniques. Aquela área somente começou a ser palco de crimes após a sua venda. Antes, era um pedaço da cidade, com seus saborosos pés de goiaba, araçá e pitanga e os exóticos eucaliptos, majestosos prendedores de pandorga. A população privada daquela área, isto sim, é um crime.


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