Crimes e Muros
(Texto escrito por Murilo Silva, Professor de
filosofia; fundador da Associação dos Moradores da Agronômica, publicado em
24/05/2013, na coluna de cartas do jornal Notícias do Dia, p. 06, A carta foi
escrita para comentar entrevista do representante da construtora que pretende
construir mega empreendimento, contestado pela maioria da cidade, capital de
SC. O argumento mais repetido pelos empresários é de que a área foi abandonada
e reúne criminosos e desocupados.)
Sobre
a Ponta do Coral, faltou dizer que em 10/11/1980 o terreno foi cercado, pelo
Estado, de arames farpados e portões com cadeados. Um mês e seis dias depois
foi vendido para uma empresa, apenas por decreto e sem lei autorizativa (ato
administrativo nulo). Desde então “benfeitorias” foram realizadas, como a
derrubada dos pavilhões (antigos depósitos de óleo da I Guerra Mundial), o
corte das árvores e a substituição da antiga cerca por um “lindo” muro cinza. A
desculpa para o atual fechamento da área não cola. É a mesma da época: veículos
que estacionam para liberar ruidosos decibéis que invadem nossos ouvidos, e
consumo de drogas. Então, tem-se que cercar a marginal a alguns metros dali,
onde centenas de jovens com tímpanos de aço fazem o show noturno dos
auto-falantes. Enquanto às drogas, teríamos que cercar a parte insular de
Floripa, com revistas diárias de entrada e saída. O que não é dito, é a
verdade: o muro de agora é apenas a tentativa do início da maquete do
empreendimento privado. Lá, antes de ser propriedade privada, gerações se
encontraram em jogos e piqueniques. Aquela área somente começou a ser palco de
crimes após a sua venda. Antes, era um pedaço da cidade, com seus saborosos pés
de goiaba, araçá e pitanga e os exóticos eucaliptos, majestosos prendedores de
pandorga. A população privada daquela área, isto sim, é um crime.
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