sexta-feira, 18 de abril de 2014

Marx e os achismos

(Texto de Murilo Silva, Professor de Filosofia, publicado no Diário Catarinense, em 16/10/2013, p.13 / Trata de um assunto que foi exageradamente comentado nas redes sociais, nos jornais impressos, sobretudo no DC, e também no telejornalismo, banalizando o pensamento de do filósofo e economista Karl Marx)


Um aluno  universitário, de Itajaí,  não cumpriu uma tarefa sobre o filósofo Karl Marx, e no lugar escreveu ao professor um “manifesto” com seu repúdio ao pensador. Como prêmio, o equivocado acadêmico foi catapultado em rede social, posando arrogantemente como arauto da liberdade, obtendo os seus 15 kbytes de fama. Faço algumas observações em favor da filosofia e da ciência política, vilipendiadas neste triste episódio.

O aluno demonstrou desconhecer o socialismo científico e o movimento operário. A partir de Marx, o capitalismo começa a ser compreendido em suas mais antagônicas manifestações. Hoje em dia, até o mais conservador dos liberais, faz sua crítica a partir de paradigmas marxistas, inclusive para criticar Karl Marx. Os não "adoradores" do capitalismo estudam Adam Smith, e seria absurdo desconsiderá-lo. 

A obsolescência teórica não está em Marx, e sim nos manuais do Consenso de Washington. O pensamento marxista não pode ser culpado por desvios da política e nem pela miséria e a opressão, inseparáveis do capitalismo.  

Sobre Lênin, o aluno ainda reproduziu um “decálogo” atribuído ao líder, que em verdade são besteiras anônimas copiadas da Internet. É inegável que tecnologias de informação otimizam a ciência e a cultura, mas também é notória a facilidade com que oferecem caminhos errantes. É melhor selecionar “Ctrl c Ctrl v”, do que folhear páginas de livros, ou até mesmo lê-los em formato digital. Estudar serve também para nos afastar dos "achismos"  do senso comum, e nos aproximar do rigor científico.

Defendo o debate de opiniões contrárias, acolho o exercício da reflexão crítica e considero a verdade absoluta sempre relativa, mas não admito a desonesta arrogância da preguiça intelectual. 


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