Parabenizo o vereador
Afrânio Boppré (PSOL), que obteve a aprovação da alteração do ano de fundação
de Nossa Senhora do Desterro, antigo nome de Florianópolis, passando a considerar o ano de 1673 como
válido para a contagem do aniversário da cidade, e não mais 1726.
Medida importante, não para homenagear Dias Velho,
um matador de índios, mas em respeito à memória desta cidade e de sua
identidade.
Esta é uma discussão antiga.
Vários historiadores catarinenses já se debruçaram sobre o assunto. Se admitirmos que Florianópolis tem o ano de
1726 como marco inicial, quando se emancipou política e administrativamente do
município de Laguna, então o Brasil não começou em 1.500 e sim em 1822, ano de
sua independência.
Lamentavelmente observei
diversas críticas contra a mudança de data, alegando que a Câmara tem assuntos
mais importantes. "O que são 53 anos a mais?" Ora, Brasília (DF) tem
somente 55 anos, assim como milhares de municípios brasileiros alcançaram
somente agora meio século. Concordaria que naquela casa legislativa há muito
vereador legislando causas menores, quando não envolvidos em falcatruas, mas
criticar a correção de um dado histórico chega a ser tacanho.
Não se trata apenas do tempo
cronológico, mas sobretudo do tempo histórico, que tem o protagonismo dos
grupos humanos, provocadores de mudanças sociais, simultaneamente modificados
por essas mudanças. O tempo pode ser vazio de fenômenos sociais quando não
habitam seres humanos em determinado ambiente, mas numa cidade ele é preenchido
de significados e significantes.
Quem sabe logo algum
vereador se dedique à aprovação de um plebiscito para consultar o povo, se
aprovam a mudança de florianopolitano para outro gentílico livre da pecha de
ditador sanguinário. Por quê? Porque Florianópolis não é a memória de Floriano, mas de muitos
outros(as) fulanos(as) e cicranos(as). Àqueles que fizeram e fazem a história
desta cidade, que aqui viveram e vivem. E nossos habitantes do presente merecem
o resgate do passado, com a dignidade da lembrança e o direito da participação.