sábado, 19 de abril de 2014

Fatos e factoides

(Texto escrito por Murilo Silva, como Secretário de Comunicação do PT/SC, publicado no Diário Catarinense, em 10/09/2010, p. 12)


Fonte da imagem: http://zelhumortotal.blogspot.com.br/

Numa campanha política a ausência de argumentos e o desespero eleitoral podem resultar na prática de “factoides”.  Cunhada em 1973 por Norman Mailer, jornalista e escritor estadunidense, premiado duas vezes com o Politzer, a palavra associa “fato” com “óide”, sufixo que significa “assemelhar-se a uma forma”. A força do factoide não está no fato em si, mas na forma como é usado. O sensacionalismo de seu uso é determinante na influência causada na opinião pública. O bom jornalismo é o remédio para combater o factoide, dizia Mailer. 

Vamos, então, aos fatos. A quebra de sigilo fiscal, fato ocorrido em setembro de 2009, é transformado agora pelo candidato Serra – como factoide - na principal bandeira de sua campanha. Atribui a responsabilidade, sem nenhuma prova, à candidata Dilma e sua equipe de campanha, ferindo um sagrado princípio constitucional: a presunção de inocência. A quebra de sigilo ocorreu há um ano, e agora Serra, como um Dom Quixote cambaleante tentando se levantar, aponta sua lança contra o horizonte da realidade. 

A receita federal abriu sindicância interna, descobrindo os acessos ilegais, e todas as medidas de apuração dos fatos e as devidas sanções estão sendo realizadas. Mas a agonia “demo-tucana” precisa dar imagem dramática ao fato, transformando-o numa salvação (des) esperada.   O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, outro dia afirmou em entrevista na TV que "Dilma tem de dar uma satisfação. Ela é a candidata dessa turma que praticou o ato ilegal". Vamos admitir a hipótese de que os praticantes da quebra de sigilo realmente apoiem Dilma, e nos lembrarmos de que os militares que apoiaram a tortura durante a ditadura apoiam Serra. Qual a cumplicidade ou responsabilidade de Serra com a tortura? Respondo que, sinceramente, não existe nenhuma relação. 

Mas, para nossa tranquilidade, a mentira tem pernas curtas. Só teremos que providenciar para que ela logo tropece em seu próprio rabo. 

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