Dia 1º de maio de 2015, em São Paulo, Matheus Moreno das Chagas, 18 anos de idade, morreu alvejado por um tiro, após forçar a entrada, por engano, no apartamento do vizinho. No dia 12, mesmo mês, em Fraiburgo, simpática cidade do meio oeste catarinense, um menino de 12 anos morreu após ser atingido por um tiro na cabeça, por engano, pelo namorado de sua mãe. Semana passada, no trânsito conurbado e conturbado de Florianópolis, presenciei um tiro de revólver disparado do interior de um Corolla, contra outro veículo que saía em alta velocidade. Dessa bala não tive notícias, se foi perdida ou achada no corpo de mais um inocente
O PL 3722/2012,
do deputado federal Rogério Peninha Mendonça, de Santa Catarina, revoga o
Estatuto do Desarmamento, que restringiu o porte e dificultou a aquisição de
armas. Com a proposta, o tempo de vigência do registro de arma é aumentado, a
idade mínima para a aquisição é reduzida, e a autorização para o porte civil não
exige mais justificativas.
Cotidianamente
armas de fogo acendem um rastilho de insegurança, pavor, morte e ódio, há décadas
antes de deputados revolvidos em falso dilema de baixo calibre: Cidadão armado inibe a violência.
O texto do PL saca
de sua cartucheira estatística baleada uma inverdade: “após o desarmamento,
muito mais cidadãos, indefesos, tornaram-se vítimas da violência urbana”. Os dados
reais mostram que homicídios cresciam 8% antes do Estatuto, contra 1% atual.
Além disto, violência urbana não é feita somente de latrocínios, mas sobretudo
de homicídios resultantes de conflitos diversos, advindos do complexo aglomerado
das cidades, muitos até banais, como dirigir um automóvel ou beber uma cerveja.
A urbanidade é espelho de contradições inerentes à lógica do capital; um
amálgama de tensões com inimigos, imagináveis ou não, em cada esquina.
O desejo de
matar antecede o uso da arma, dizem belicosos especialistas, como se a morte
fosse apenas fruto do desejo, deixando de fora o acaso, a reação inadequada, a
cólera, o erro e a oportunidade, que movem o dedo ao gatilho sem a ocorrência
do desejo ou da premeditação.
Por ano, meio
milhão de pessoas no mundo têm suas vidas eliminadas pelo revólver. Outras
milhões são feridas e/ou ameaçadas. O comércio de armas movimenta anualmente mais
de 100 bilhões de dólares. No Brasil, em 2012,
morreram vítimas de armas de fogo 42.416 pessoas.
A matéria legislativa armamentista sugere um faroeste, esperando “contribuir para o aperfeiçoamento do nosso ordenamento jurídico”, cometendo o vacilo de revolver ao "seguro" e persuasivo revólver, que resolverá tão somente o fluxo de caixa dos produtores e comerciantes de armas. E neste bang-bang movido a sangue, mocinhos e bandidos morrerão ainda mais.
Perfeito. Uma análise lúcida para um tempo onde a violência cresce, o respeito, a solidariedade e humanidade, diminuem!
ResponderExcluirÉ isso aí Janeth. Temos que mirar certeiramente no monstro violento e persuasivo, acerta-lo com a bala da verdade e enterra-lo na cova da insensatez. Abraço.
ExcluirJá que vc falou em estudos tai um bom para clarear as suas idéias https://www.epochtimes.com.br/direito-posse-de-arma-reduz-criminalidade-afirma-harvard/#.VcThTPlViHM
ResponderExcluirProcure ler aquilo que serviu de fonte para esse PL da bala, que é o Mapa da Violência 2011, estudo coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, considerado referência no assunto. Veja a manipulação... Apenas esteja certo de que sou honesto o suficiente para provar que o texto do projeto de lei comete alteração de dados importantes. O deputado autor contraria (manipulando) a fonte
Excluirpara convencer sua proposta. Abraço.
Parabéns pelo lúcido comentário. Mais um projeto que precisa ser desmascarado e cuja possível aprovação vai contra todos os esforços em prol da paz urbana.
ResponderExcluirObrigado, Professor Scheibe. Quando li a justificativa do PL da bala logo percebi a alteração dos dados do honesto e íntegro trabalho do Mapa da Violência 2011, coordenado pelo conceituado sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz. Abraço.
ExcluirMuito bom texto. Convincente e elucidativo.
ResponderExcluirValeu, Cléber. Temos que fazer voltar para o armário ideológico posições retrógradas que ameaçam a democracia. Abraço.
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