Segue o processo de polarização
política no país, como uma espécie de terceiro turno. Circulam na internet, por
exemplo, mensagens com o título de “O Fim do Brasil”, defendendo a tese de que
o Brasil vai quebrar nos próximos meses, que o desemprego vai aumentar, que o
país não conseguirá cumprir seus compromissos externos, etc. Há um verdadeiro
massacre informativo envolvendo a corrupção na Petrobras, dando a nítida
impressão aos incautos de que a empresa é um antro de ineficiência e corrupção.
A escolha de Joaquim Levy para a economia, por outro lado, tornou o governo
refém do êxito ou fracasso da política ortodoxa. O preço será alto em qualquer
hipótese: se fracassa o ministro, fracassa o governo; se o ministro tiver êxito
na sua política de ajuste, isto pode levar a um distanciamento do governo da
sua principal base social, que lhe ofereceu quatro mandatos seguidos.
A questão é ainda mais complexa.
Mesmo que o programa de Levy seja exitoso, isto é, reduza o nível
inflacionário, atinja a meta fiscal e melhore o desempenho da balança comercial
(que acumula déficit superior a US$ 6 bilhões no primeiro bimestre do ano), não
há nenhuma garantia de que o Brasil ingressará num novo ciclo de crescimento. É
que a crise mundial continua extremamente grave, apesar da melhor performance
da economia norte americana. Mesmo que a elevação dos juros e o corte de gastos
públicos signifique redução do poder de compra dos salários (o que inclusive
pode abrir um flanco de conflito com os trabalhadores, agravando ainda mais a
crise política), não será nada fácil para o país reverter a crise da indústria
e as dificuldades na balança comercial. O ambiente externo é muito difícil, a
crise já se prolonga por seis anos e o encolhimento dos mercados provocou uma
espécie de guerra cambial de todos contra todos.
Em outra frente de batalha, o
massacre contra a Petrobras continua ensandecido. Usando como pretexto os R$
400 milhões desviados da empresa pelos ladrões confessos (valor comprovado, as
especulações estimam que possa ultrapassar R$ 2 bilhões), o objetivo dos
golpistas em geral com a campanha contra a Petrobras são os trilhões de reais
depositados no pré-sal, (que podem alcançar R$ 20 trilhões). A campanha pelo
impeachment da Presidente da República se inscreve neste contexto. Imprensa,
incautos, traidores, entreguistas e outros falam em Petrobras “destruída”. No
entanto a empresa:
● Bateu o recorde de produção em
dezembro com 2,17 milhões de barris de petróleo por dia. O sexto recorde anual
seguido.
● No mês passado recebeu o
OTC-2015, o Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and
Institutions, "o mais importante para operadoras off-shore". O prêmio foi em reconhecimento ao "conjunto
de tecnologias desenvolvidas para a produção na camada pré-sal". O OTC - Offshore Technology Conferences, é o
"Oscar" tecnológico da exploração de petróleo em alto mar, que se
realiza a cada dois anos, na cidade de Houston, no Texas, nos Estados Unidos
● É a maior empresa da América
Latina, e a de maior lucro em 2013 - mais de 10 bilhões de dólares (a PEMEX
mexicana, por exemplo, teve um prejuízo de mais de 12 bilhões de dólares no
mesmo período)
● Ultrapassou, no terceiro
trimestre de 2014, a EXXON norte - americana como a maior produtora de petróleo
do mundo, entre as maiores companhias petrolíferas mundiais de capital aberto
● Tem faturamento de 305 bilhões
de reais em 2013
● Investe mais de 100 bilhões de
reais por ano
●Opera uma frota de 326 navios,
tem 35.000 quilômetros de dutos, mais de 17 bilhões de barris em reservas, 15
refinarias e 134 plataformas de produção de gás e de petróleo
● O pré-sal com apenas 47 poços
operando (isso é quase nada serão centenas), produz, entre petróleo e gás,
815,8 mil barris de óleo equivalente por dia, um aumento de 93% de um ano
atrás.
● Sozinha é responsável por mais
de 10% de todo o investimento brasileiro neste ano. A empresa é responsável
pelo maior plano de investimento em curso no século XXI, feito por uma única
corporação: algo em torno de U$ 200 bilhões de dólares serão aplicados pela
estatal em exploração e produção, entre 2014 e 2018.
Por todos os ângulos que se olhe, nenhuma empresa tem números sequer comparáveis aos da Petrobras. Obviamente ela está sendo atacada não pelos seus defeitos, mas pelas suas virtudes e por significar um obstáculo fundamental na cobiça das multinacionais petrolíferas pela riqueza contida no pré-sal. Quem deseja destruir a empresa tem hoje três alvos principais: 1) acabar com as políticas de conteúdo nacional da Petrobras; 2) extinguir o regime de partilha no pré-sal; 3) abolir a exclusividade da exploração do pré-sal pela Petrobras. Brasileiros e trabalhadores temos a obrigação de sermos críticos e apontar implacavelmente os erros dos governos. Mas não temos o direito de ser ingênuos.
*José Álvaro de Lima Cardoso é economista e técnico do DIEESE
em Santa Catarina.